O Paradoxo da Herança Europeia
A história do Brasil está intrinsecamente ligada à Europa, especialmente a Portugal. É paradoxal que brasileiros expressem ódio ou ressentimento à Europa, como se estivéssemos diante de um inimigo distante e destrutivo. No entanto, uma análise histórica, genética e cultural mostra que tal ressentimento é incompleto e até ilógico.
A formação genética do povo brasileiro
A população brasileira moderna é, em grande parte, resultado da mistura de povos europeus, africanos e indígenas. Estudos de DNA revelam que a ancestralidade predominante é a europeia, especialmente nas regiões Sul e Sudeste, predominantemente portuguesa, mas também italiana, espanhola e alemã.
Quando alguém afirma que “Portugal nos colonizou” ou que “os europeus destruíram o Brasil”, ignora-se que uma parcela significativa do nosso DNA vem justamente da Europa. Criticar a Europa como se fosse um inimigo é, portanto, criticar indiretamente a própria ancestralidade de muitos brasileiros.
Língua e cultura: uma herança europeia
O português é a língua oficial do Brasil, e praticamente todas as instituições formais — jurídicas, administrativas, educacionais e literárias — derivam de Portugal. Nossa música, nossa literatura e até nossos costumes mais tradicionais foram profundamente moldados por influências europeias. Tudo isso é parte daquilo que define a identidade brasileira.
História política: do Reino Unido a um Império independente
Em 1500, o território que hoje chamamos de Brasil era habitado por povos indígenas diversos, sem estruturas de Estado-nação. Portugal chegou, administrou o território e criou bases que formariam o Brasil moderno.
Um dos episódios mais significativos ocorreu em 1807, quando a família real portuguesa transferiu-se para o Brasil, acompanhada de cerca de 420 pessoas entre nobres, servos e funcionários, trazendo consigo uma biblioteca com mais de 60 mil volumes. O Rio de Janeiro tornou-se a nova sede da monarquia portuguesa, configurando o que os historiadores chamam de “inversão metropolitana”: pela primeira e única vez na história, uma colônia passou a sediar a corte de um reino europeu.
Em 1815, o Brasil foi elevado à condição de Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, e a independência, em 1822, foi conduzida por Pedro I, membro da realeza portuguesa. Posteriormente, o Brasil tornou-se um Império liderado por essa mesma linhagem.
Não havia, portanto, um “Brasil” pronto para ser destruído. As frases “Portugal nos colonizou” ou “Portugal tirou nosso ouro” são anacrônicas: o “nós” referido não existia em 1500. O Brasil foi, na prática, criado por Portugal, e nossa história política é inseparável dessa herança europeia.
O paradoxo ideológico do ressentimento
Quando um brasileiro afirma ódio à Europa, existe um paradoxo: ele fala de uma cultura, língua e ancestralidade que fazem parte de sua própria constituição. É como criticar um ancestral direto sem reconhecer que ele ajudou a formar quem somos hoje.
O ressentimento surge frequentemente de percepções de injustiça histórica, como escravidão ou exploração colonial, mas é preciso contextualizar: os europeus não chegaram a um país já existente para destruí-lo; eles criaram o país. Negar isso é negar a própria história.
Reconheçamos a herança europeia
O Brasil é, em muitos aspectos, um filho da Europa. Nossa língua, nossa cultura, nossas instituições e, em grande parte, nossa genética vêm de lá. Podemos e devemos analisar criticamente aspectos do passado colonial, mas reconhecer a herança europeia não é uma forma de submissão; é um reconhecimento da origem e da formação do Brasil como nação.
Valorizar nossa história europeia é, na verdade, valorizar a si mesmo, entendendo que nossa identidade é uma síntese rica, complexa e diretamente ligada ao Velho Continente. Quem somos hoje, enquanto brasileiros, não existe sem essa herança. Devemos aceitar a realidade histórica e celebrar a formação de um país que surgiu do encontro entre mundos, mas que teve na Europa a sua matriz fundamental.